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Publicado em 28 de jan de 2016. O novo boletim divulgado nesta quarta-feira (27) aponta também que 270 casos já tiveram confirmação de microcefalia, sendo que 6 com relação ao vírus Zika. Outros 462 casos notificados já foram descartados. Ao todo, 4.180 casos suspeitos de microcefalia foram registrados até 23 de janeiro.

Além do discurso político, Brics devem provar intenções

Editorial publicado no Valor Econômico

O discurso político predominou na reunião de cúpula dos Brics, realizada em Fortaleza nesta semana. Ao longo dos dois dias de encontro, o grupo anunciou a criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas (CRA, na sigla em inglês), apresentados como alternativas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial.

Os Brics emitiram uma declaração oficial de 72 parágrafos em que se declaram "desapontados e seriamente preocupados" com o atraso nas reformas do FMI; indicaram tacitamente que a Rússia não está tão isolada quanto desejam os Estados Unidos e a União Europeia e ainda apoiaram explicitamente a Argentina em sua disputa com os fundos abutres.

A presidente Dilma Rousseff reclamou que os Brics concentram 21% do Produto Interno Bruto (PIB) global, mas têm uma participação de 11% no FMI. A proposta para mudar o sistema de cotas está empacada no Congresso americano desde 2010. "Precisamos trabalhar para a melhoria da governança econômica e aumentar a voz dos países em desenvolvimento", concordou o presidente chinês Xi Jinping.

Ao informar que o Novo Banco de Desenvolvimento nascia com capital de US$ 50 bilhões dividido em partes iguais, Dilma explicou que nenhum dos membros do grupo - África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia - quis se mostrar hegemônico. "Não é um formato do tipo de política tradicional, do tipo de Bretton Woods", disse em referência ao acordo que criou o FMI e o Banco Mundial, selado na Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, realizada em 1944 para reorganizar a economia após a Segunda Guerra Mundial, que reuniu 730 delegados de 44 países. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os Brics foram além de Bretton Woods.

O Novo Banco de Desenvolvimento nasce teoricamente mais poderoso do que o Banco Mundial, cujo capital é de US$ 40 bilhões. Com os US$ 50 bilhões de capital subscrito, o banco dos Brics poderá alavancar US$ 560 bilhões em financiamento, canalizados para a infraestrutura, mais do que os pouco mais de US$ 300 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco Mundial. O capital autorizado vai bem além e chega a US$ 100 bilhões.

Mas os Brics pareceram mais entusiasmados com o Arranjo Contingente de Reservas, este sim mais comparável à função do FMI porque destina-se a ajudar os países membros com dificuldades no balanço de pagamentos. Na verdade, o sistema tem várias semelhanças com o FMI. As contribuições dos países ao fundo variam conforme o volume das reservas de cada um. A China entra com US$ 41 bilhões; Brasil, Índia e Rússia com US$ 18 bilhões cada um; e a África do Sul, com US$ 5 bilhões. O volume que cada país poderá sacar em caso de necessidade é também diferente. Embora haja um multiplicador que suaviza as diferenças, quem depositou mais saca mais: a China terá metade do que depositou, Brasil, Índia e Rússia exatamente o valor depositado; e a África do Sul, duas vezes.

Mas a principal surpresa é que o país só poderá sacar todo o dinheiro a que tem direito se tiver um programa de apoio financeiro com o FMI. Caso contrário, só terá direito a 30% do montante. Na prática, o CRA terceirizou para o Fundo todo o trabalho de verificação das contas do país que está pedindo a ajuda e imposição do ajuste fiscal, cambial e monetário.

Por isso, enquanto a cúpula dos Brics salientava as diferenças das decisões do grupo em relação às tomadas em Bretton Woods, funcionários das áreas mais técnicas se esforçavam em desfazer os ruídos e em explicar que as medidas complementavam o sistema do FMI.

Isso explica porque rapidamente a gerente geral do FMI, Christine Lagarde, soltou uma nota endereçada à presidente Dilma afirmando que a equipe do Fundo gostaria muito de trabalhar com a equipe que estava desenvolvendo o CRA "para reforçar a cooperação de todas as partes da rede internacional de segurança voltada para preservar a estabilidade financeira mundial". Lagarde procurou ainda afagar o grupo dizendo que os Brics são membros importantes do FMI.

Ao lançar o novo banco e o arranjo contingente, os Brics dão o primeiro passo concreto para demonstrar que são mais do que uma sigla criada pelo banqueiro de investimento Jim O'Neill em 2001 para vender mais títulos de mercados emergentes. Mas é necessário deixar o marketing para trás.

(Valor Econômico)

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