Contra a posição do governo,
os deputados do PT decidiram ontem em reunião votar favoravelmente à proposta
de emenda constitucional (PEC) que aumenta a vinculação de receitas da União
para a saúde. Mais cedo, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE),
apelou aos partidos da base pela rejeição da proposta. O gasto até 2022, diz o
Executivo, será de R$ 207 bilhões.
A maioria dos partidos da base
concordou com o posicionamento do governo por entender que não é o momento para
engessar mais os gastos da União. "É importante aumentar os recursos para
saúde? Lógico que é. Mas não temos espaço para isso durante a crise
fiscal", disse o líder do PR, Maurício Quintella (AL).
O PT, porém, avalia que é
preciso aumentar as receitas e, a contragosto do Palácio do Planalto, avisou
ontem que votaria favoravelmente à PEC. "A bancada tem que analisar o que
é importante para o partido e para a população, não só para o governo",
disse o deputado João Daniel (SE).
A posição favorável à PEC é mais
um atrito na relação do partido com o governo. Os petistas já têm criticado
outras propostas do Planalto, como a Reforma da Previdência e a ideia de
congelar o aumento do salário mínimo se houver queda na arrecadação, e o
desgaste chegou à temperatura máxima no sábado, durante reunião do diretório
nacional do PT, em que a presidente Dilma Rousseff resolveu não participar.
Os petistas dizem que não têm
como se opor ao aumento dos gastos com serviços de saúde, uma bandeira
histórica do partido, e dizem que buscarão entendimento com outras siglas para
aprovar fontes de receita que custeiem o aumento enquanto o texto tramitar no
Senado. "O projeto, do jeito que está escrito, não resolve o problema da
falta de fontes de financiamento e pode permitir a redução dos gastos em saúde
se houver queda de arrecadação", afirmou o líder da bancada, Afonso
Florence (PT-BA).
Pela PEC, o governo federal
terá que gastar 19,4% de sua receita corrente líquida em ações e serviços
públicos de saúde ao final de seis anos. Atualmente, emenda constitucional
aprovada no primeiro governo Dilma exige que a União gaste no mínimo 13,2% da
receita corrente líquida para 2016 com saúde, percentual que aumenta
gradualmente até 15% em 2020. A diferença aumentaria os gastos em R$ 13,7 bilhões
este ano - mais do que o governo previa arrecadar com a CPMF.
O Ministério da Fazenda é
contra a aprovação da PEC, de autoria do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) e
movimentos sociais. Segundo fontes, a Fazenda reconhece a importância dos
gastos com saúde e ressalta que exatamente por isso pediu para mudar a meta fiscal
deste ano e poder gastar mais R$ 3 bilhões. A PEC, contudo, aumentaria a
rigidez num Orçamento em que 90% das despesas já são determinadas por lei.
Petistas argumentam, por outro
lado, que houve redução nos gastos com o setor depois de aprovada emenda em
2014. "Naquele ano foi gasto 14,8% da receita corrente líquida, mas os
critérios mudaram e o governo federal acabou gastando menos ano passado",
disse o vice-líder do PT, Ságuas Moraes (MT). O partido, afirmou, negociaria as
fontes de receita enquanto o projeto tramitasse no Senado.
Pressionado pelo PT, o
governo, que pretendia derrotar a PEC, negociou com a oposição adiar a votação
da proposta - que estava marcada para ontem à noite- até terça-feira, quando
apresentará texto alternativo, com alíquotas menores. Se aprovada a emenda
constitucional, Dilma não tem poder de veto.
Fonte: Valor Econômico
Autor: Raphael Di Cunto,
Thiago Resende e Leandra Peres
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