Os brasileiros têm tendência a desenvolver doenças
cardiovasculares causadas por hipertensão arterial. Em 22 inquéritos
populacionais, representativos de cidades brasileiras, identificou-se alta
prevalência de hipertensão, variando entre 22% e 44% em adultos (32% em média)
e chegando a mais de 50% em indivíduos com 60 a 69 anos e 75% naqueles com mais
de 70 anos. A alta prevalência de hipertensão arterial é decorrente de sua alta
incidência, chegando a 80% em indivíduos com pré-hipertensão arterial em 10
anos. Esta é uma das informações divulgadas no fascículo ”Comparação entremedicamentos para tratamento inicial da hipertensão arterial sistêmica”,
lançado no último mês pela Representação da Organização Pan-Americana da
Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil.
O artigo, escrito por Flávio Danni Fuchs, Doutor em
Cardiologia e Ciências Cardiovasculares pela UFRGS e Professor Titular de
Cardiologia na Faculdade de Medicina da UFRGS, faz parte da série “Uso Racional
de Medicamentos: fundamentação em condutas terapêuticas e nos macroprocessos da
Assistência Farmacêutica”. O objetivo é fornecer aos profissionais, gestores e
usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) informações confiáveis e isentas, com
base nas melhores evidências científicas disponíveis.
A Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é causa de
doenças do coração hipertensivas e fator de risco dominante para doenças
decorrentes de aterosclerose e trombose, como acometimento isquêmico cardíaco,
cerebral, vascular periférico e renal, além de poder ocasionar insuficiência
cardíaca. Pacientes hipertensos em fases mais precoces da vida podem
desenvolver déficits cognitivos (doença de Alzheimer e demência vascular e
senil), bem como outras complicações. Essa multiplicidade de consequências
caracteriza a hipertensão arterial sistêmica como uma das causas de maior
redução de expectativa e qualidade de vida das pessoas.
O risco inicia em valores tão baixos quanto 120/80
mmHg, que poderão transformar-se em novos limites diagnósticos de hipertensão
arterial.
Abordagem não medicamentosa X medicamentosa
A primeira abordagem face ao diagnóstico de
hipertensão arterial ou mesmo de pré-hipertensão arterial deve ser com medidas
não medicamentosas, conhecidas como mudanças do estilo de vida. Medidas
populacionais podem ser teoricamente eficazes em prevenir a elevação da pressão
arterial com a idade e auxiliar no tratamento de pacientes já hipertensos. A
restrição de sais de sódio utilizados para conservação de alimentos
industrializados e sua redução no preparo de alimentos têm o maior potencial de
efetividade. Países, incluindo o Brasil, estão se movendo nesse sentido, mas
ainda estão longe de diminuir substancialmente a quantidade de sódio adicionada
a alimentos.
As medidas não medicamentosas propriamente ditas
apresentam benefício discreto, e por vezes incerto, no controle da pressão
arterial. Assim, faz-se necessária a utilização de medicamentos para obter o
efetivo controle da HAS, entretanto a escolha da farmacoterapia deve ser
realizada caso a caso, considerando as melhores evidências disponíveis na literatura,
e deve obedecer às prioridades de escolha entre os diferentes grupos
farmacológicos e as associações possíveis entre esses grupos, tendo em mente as
possíveis contraindicações e efeitos adversos.
A versão completa da série “Uso Racional de Medicamentos:
fundamentação em condutas terapêuticas e nos macroprocessos da Assistência
Farmacêutica” pode ser acessada aqui.
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