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Publicado em 28 de jan de 2016. O novo boletim divulgado nesta quarta-feira (27) aponta também que 270 casos já tiveram confirmação de microcefalia, sendo que 6 com relação ao vírus Zika. Outros 462 casos notificados já foram descartados. Ao todo, 4.180 casos suspeitos de microcefalia foram registrados até 23 de janeiro.

Brasil avança contra hanseníase, mas mantém desigualdade

Doença infectocontagiosa que atinge a pele e nervos periféricos e pode resultar em sérias incapacidades físicas, a hanseníase ainda é um problema de saúde pública em diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil. Apesar dos avanços nos últimos anos, o país registrou mais de 28 mil novos casos em 2015, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Para discutir o tema, a Casa de Oswaldo Cruz promoveu o seminário Global Health Histories: Leprosy na última sexta-feira (6/5), no Rio de Janeiro. Em sua 97ª edição, a iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Centre for Global Health Histories da Universidade de York (Reino Unido) foi realizado pela primeira vez na América.

Signatário da proposta de alcançar a marca de menos de um caso de hanseníase para cada grupo de 10 mil habitantes, acordada na década de 1990 no âmbito da OMS, o Brasil está próximo de atingir a meta, disse Rosa Castália França Ribeiro Soares, da Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação, ligada ao Ministério da Saúde. “Já temos 1,15 [caso] para cada grupo de 10 mil habitantes. Provavelmente no próximo ano, em se mantendo o ritmo de declínio, alcançamos essa meta em nível nacional, porque alguns estados já a alcançaram”, previu. Entre as ações levadas a cabo, Rosa Castália mencionou as campanhas voltadas para crianças de 5 a 14 anos em áreas endêmicas, que resultaram na ampliação do acesso ao diagnóstico e ao tratamento pela população infantil.

A média nacional, entretanto, esconde realidades díspares nas diferentes regiões brasileiras. Enquanto no Rio Grande do Sul, a doença está praticamente erradicada, estados como Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, ainda têm alta incidência. “[São] estados onde o acesso ao diagnóstico e ao tratamento é mais difícil e a distribuição de renda, as condições de vida e a infraestrutura social são mais precárias”, explicou Rosa Castália. De acordo com ela, o governo brasileiro trabalha para reduzir a carga da doença em todos os municípios do país e, por meio de diagnósticos mais precoces, eliminar a incapacidade física decorrente da hanseníase.

Em agosto, o Ministério da Saúde pretende lançar uma nova edição do Plano integrado de ações estratégicas de eliminação da hanseníase, filariose, esquistossomose e oncocercose como problema de saúde pública, tracoma como causa de cegueira e controle das geohelmintíases, para o período 2016-2020. A nova edição do documento vai seguir as novas recomendações da OMS, expressas na recém-lançada estratégia global de hanseníase para os próximos cinco anos, que tem como foco a redução das incapacidades físicas e o diagnóstico precoce da doença. “A estratégia anterior era mais focada em reduzir a transmissão e o número de pessoas infectadas. Esta nova [fase] é mais de redução dos danos da doença”, afirmou a coordenadora.

Para a assessora sênior em saúde global do Fundo Global Mirta Roses Periago, o combate à hanseníase hoje “paga pelo sucesso” obtido nos últimos anos. De acordo com ela, assim como outras doenças que estão sob controle ou em fase de eliminação, a hanseníase começa a perder atenção por parte de diferentes atores. “Trata-se de uma doença que está em fase de controle avançado e próxima da eliminação como problema de saúde pública. Mas isso não significa que ela não siga existindo e que, portanto, haja pessoas em risco e que vão sofrer caso sejam detectadas tardiamente, com possíveis incapacidades e outros problemas”, avaliou.

A falta de financiamento é um dos principais entraves a maiores avanços, na avaliação de Mirta.  De acordo com ela, a maior parte dos recursos hoje é de origem estatal ou filantrópica. “Embora exista há mais de 4 mil anos, a doença ainda é um grande mistério em muitos de seus aspectos. Do ponto de vista da ciência, da biologia, da genética e da patologia, desconhecemos muitos de seus mecanismos […]. Então, a falta de investimento faz com que não possamos dar um passo adiante no conhecimento da doença e na identificação de novos métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção”, observou.

Ao defender a importância dos estudos históricos sobre a hanseníase para a formulação de políticas e estratégias para combatê-la, a coordenadora do Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Euzenir Sarno, afirmou que o país ainda terá de conviver com a doença por “muitos anos”. “Mesmo o Rio Grande do Sul, um Estado que, em 1985, tinha eliminado a hanseníase, ainda hoje tem casos. É uma doença que deixa um rastro por muitos anos”, explicou.

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