Remédio para anemia falciforme pode acabar, alerta representante de pacientes
Tema foi debatido em audiência pública na Câmara. Ministério da Saúde quer viabilizar produção nacional da hidroxiureia, droga usada no tratamento da doença. Ideia é que o laboratório da Aeronáutica passa a produzir o medicamento.
Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados |
Portadora da doença, Maria Zenó destaca: "remédio é fundamental para diminuir internações".
O principal medicamento para atenuar o sofrimento das 40 mil pessoas no Brasil que têm anemia falciforme pode estar em falta em poucos meses. É que a indústria farmacêutica anunciou a indisponibilidade do princípio ativo (hidroxiureia) e a possível suspensão da fabricação do remédio até o fim do ano.
A informação foi prestada nesta quinta-feira (30) pela coordenadora-geral da Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doença Falciforme (Fenafal), Maria Zenó, em audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.
A hidroxiureia é cedida aos pacientes pelas secretarias de saúde e representa um alívio, como explicou Maria Zenó: “Tomo o remédio há 15 anos. Ele é fundamental para diminuir as internações”, disse. A coordenadora-geral demonstrou preocupação com a possibilidade do corte do medicamento.
Características
A anemia falciforme é uma doença hereditária, ou seja, passa dos pais para os filhos. A principal característica é a alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, tornando-os parecidos com uma foice – daí o nome falciforme.
Fabricação no País
Segundo a coordenadora da Política de Doença Falciforme da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Joice Aragão de Jesus, a pasta está tentando uma forma de facilitar o acesso ao medicamento sem depender do fabricante, que é estrangeiro. "Há um processo no ministério de tentar viabilizar a produção nacional de hidroxiureia”, ressaltou. A intenção é que o laboratório da Aeronáutica passe a produzir o medicamento.
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Eleuses Paiva ressaltou a importância do diagnóstico precoce.
O Sistema Único de Saúde (SUS) repassa aos estados, por ano, o valor de compra de 3,5 milhões de comprimidos de hidroxiuréia. Os pacientes, após diagnosticados e cadastrados, pegam o medicamento mensalmente.
No mercado, uma caixa com 100 comprimidos de hidroxiureia custa, em média, R$ 300. O valor pesa no orçamento das famílias, uma vez que muitos parentes de pessoas com a doença são obrigados a viver em função do enfermo. 98% dos doentes falciformes adultos recebem Bolsa Família, segundo informações da federação que reúne as associações de pacientes.
Joice Aragão informou que, até 2015, os hemocentros devem unificar seus cadastros de doentes falciformes em todo o Brasil, o que vai mapear os casos. Dos 27 hemocentros, apenas sete possuem cadastro informatizado. O Ministério da Saúde criou uma ferramenta para padronizar as informações e o próximo passo deve ser a ampliação do banco de dados a outros centros.
Diagnóstico precoce
O autor do requerimento para a realização da audiência, deputado Eleuses Paiva (PSD-SP), destacou a importância do diagnóstico precoce. "Isso é fundamental para conseguir reverter um quadro futuro de anemia falciforme. Estamos chamando pessoas com notório saber na área justamente para poder avançar nessa discussão”, declarou.
Desde 2012, o Ministério da Saúde incluiu na lista de procedimentos pré-natais do SUS um exame chamado “eletroforese de hemoglobina”, que detecta a doença falciforme.
Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Edição – Marcelo Oliveira
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