Fiocruz mira biofármacos e aposta em parcerias - Apontado como um dos setores de maior potencial econômico do Rio de Janeiro, os biofármacos estão na mira da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A procura por biofármacos é crescente em todo o mundo. No Brasil, embora constituam apenas 4% da demanda total de medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), representam 32% da despesa do governo neste segmento, diz Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz. Ele explica que isso se deve aos preços elevados destes produtos. “São caros porque ainda estão em uma fase de desenvolvimento muito competitiva a nível mundial”, explica.
Um estudo do Sebrae, intitulado “Roadmap – Desenvolvimento do Cluster de Biotecnologia para a Saúde Humana”, divulgado em junho de 2014, mostrava que a estrutura já montada na cidade, especialmente os grandes centros tecnológicos como a Biomanguinhos e a Farmanguinhos, o Instituto Vital Brazil (soros e medicamentos), a Fundação Ataulpho de Paiva (vacina BCG) e o Polo Farmacêutico de Jacarepaguá, formam um complexo pronto para acelerar o desenvolvimento em biofármacos.
A Biomanguinhos e a Farmanguinhos são ligados à Fiocruz, uma das mais antigas e importantes instituição do setor, condutor do desenvolvimento na área. Mas para Gadelha, o potencial também se apoia na própria estrutura médica da cidade. “O Rio de Janeiro tem a vantagem da base hospitalar e ambulatorial, construída ainda no tempo em que era capital. Apesar das deficiências de estrutura, há grandes hospitais que podem servir de base tanto para pesquisas como para clínica de medicamentos e vacinas”, disse Gadelha.
O documento do Sebrae aponta também para outros recursos de pesquisa e desenvolvimento e recursos humanos que podem atrair novos investimentos para a cidade, dependendo dos estímulos corretos em termos de financiamento e apoio governamental. Alguns importantes exemplos são a Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer coordenada pelo Inca, o Into (ortopedia), e o Inmetro, que mantém um laboratório de biotecnologia em Xerém (Baixada Fluminense). O Estado possui seis cursos de nível superior em biotecnologia (bacharelado e tecnológico), com oferta de 476 vagas/ano, quatro cursos de nível técnico e 32 programas de pós-graduação. Apesar da estrutura, o Rio está em terceiro lugar na produção nacional, atrás de São Paulo e Belo Horizonte.
Gadelha lembra que a Fiocruz está afinada com um esforço de retomada da produção de biofármacos, desmantelada há mais de 20 anos pela política de redução a zero das alíquotas de importação promovida pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992). O Brasil importa hoje quase 90% dos insumos farmacêuticos (princípios ativos) e a Fiocruz está desenvolvendo uma área de síntese química em uma tentativa de recuperar a competitividade do setor para reduzir a dependência de importados.
A estratégia da Fundação é de parceria com as empresas privadas (PDP), apoiada por uma legislação de 2014 que estabelece estímulos ao desenvolvimento de biofármacos com transferência de tecnologia, associando programas governamentais como os financiamentos do programa Brasil Maior, do BNDES, a uma política de margem de preferência de 25% nas compras públicas para produtos que tiveram transferência de tecnologia.
Por essa regulamentação, a Fiocruz já fez mais de 30 PDPs com cerca de cem empresas. “As parcerias sempre envolvem um laboratório público, uma empresa nacional, e a multinacional que detém a patente e transfere a tecnologia”, explica Gadelha. “Se não dominarmos a tecnologia e desenvolver medicamentos no próprio país será uma ameaça imensa, não só ao setor, mas à sustentabilidade do SUS que se pretende ser universal.”
Fonte: Valor Econômico
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