Apesar de dois dias constantes
de febre, Valdir dos Santos, 36 anos, não achou que tinha motivo para se
preocupar com o sintoma. “Eu nem desconfiei que era malária. Nunca tinha pego.
Aqui na região Norte a gente ouve muito falar, mas quando eu ia para o interior
não me preocupava. Foi minha mãe que conhecia mais os sintomas e disse pra eu
ir ao hospital”, conta.
A febre que Valdir sentiu é um
sintoma comum da malária. A doença é infecciosa e causada pelo Plasmodium, um
parasito transmitido através da picada de fêmeas de mosquitos Anopheles
infectados. Esses mosquitos são encontrados, geralmente, em ambientes tropicais
e estão presentes em praticamente todo o território brasileiro. Também são
sintomas da doença dores de cabeça, no corpo, cansaço, tontura, náusea,
calafrios, tremores e sudorese.
Na Região Amazônica, os estados
do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e
Maranhão são os que concentram o maior número de casos da malária do país. Para
ser ter ideia, a área é responsável por 99% dos casos totais no Brasil.
A suspeita da malária pedirá
exames laboratoriais rápidos para garantir que o diagnóstico seja preciso.A
partir do momento que o paciente recebe a confirmação da doença, ele poderá
usufruir de uma medicação disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) para
o tratamento, que será realizado em casa. “Antes de qualquer paciente sair
daqui, explico direitinho o que ele vai ter que fazer. Toda a equipe tem esse
cuidado”, conta o enfermeiro Soniberto Paixão Freitas, de 43 anos, parte da
equipe da Fundação de Medicina Tropical "Doutor Heitor Vieira
Dourado", em Manaus. O estabelecimento é referencial mundial nesse tipo de
tratamento.
O Ministério da Saúde reforça
a importância do comprometimento dos profissionais de saúde no tratamento da
malária. Desde o agente de saúde da comunidade ou o agente de combate às
endemias até o médico, todos devem orientar os pacientes e reforçar os cuidados
adequadamente e com uma linguagem compreensível. Em diversos lugares, os
responsáveis por distribuir e orientar o uso dos medicamentos utilizam
envelopes de cores diferentes para cada tratamento.
Por se tratar de uma região
com difícil acesso, muitos pacientes, ás vezes, não dispõem nem mesmo de
relógio para verificar as horas. O uso de expressões mais simples, como manhã,
tarde e noite, para a indicação do momento da ingestão do remédio, por exemplo,
ao invés de expressões como de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas, ajudam a
manter esse cuidado. Por causa da febre, da dor e do mal-estar, os pacientes
podem ficar desatentos e precisam dessa orientação que, sempre que possível,
deve ser dada também para o acompanhante.
Para Valdir dos Santos, que
foi atendido na Fundação de Medicina Tropical, as informações compartilhadas,
merecerão agora cuidado redobrado. “Agora eu tô alerta. A população toda deve
ficar”, reforça.
Já a internação em função da
doença é uma opção para crianças menores de 5 anos, idosos com mais de 60 anos,
gestantes, pacientes com deficiências imunológicas e obrigatória para todo
paciente com sinais de malária grave. “É em casa que o paciente deve completar
todo o tratamento. Mesmo que os sintomas desapareçam, o tratamento deve ser
feito até o final, pois sua interrupção pode fazer com que a doença apareça
novamente ou, pior, pode levar a um quadro grave. Uma pessoa infectada e sem
tratamento ajuda a manter a doença circulando na sua comunidade”, explica a
coordenadora do Programa Nacional de Controle da Malária do Ministério da
Saúde, Ana Carolina Santelli.
Medidas simples podem reduzir
a possibilidade de contaminação. Veja alguns exemplos:
- Usar cortinados e
mosquiteiros, de preferência os impregnados com inseticidas de longa duração,
sobre a cama ou rede.
- Usar telas em portas e
janelas.
- Evitar frequentar locais
próximos a criadouros naturais de mosquitos, como beira de rio ou áreas
alagadas ao final da tarde até o amanhecer, pois nesses horários há um maior
número de mosquitos transmissores circulando.
- Diminuir ao mínimo possível
as áreas descobertas do corpo onde o mosquito possa picar, com o uso de calças
e camisas de mangas compridas e cores claras.
- Usar repelentes à base de
DEET (N-N-dietilmetatoluamida) ou de icaridina nas partes descobertas do corpo.
O uso deve seguir as indicações do fabricante em relação à faixa etária e a
frequência de aplicação.
- Em crianças menores de 2
anos de idade, não é recomendado o uso de repelente sem orientação médica. Para
crianças entre 2 e 12 anos, usar concentrações até 10% de DEET, no máximo 3
vezes ao dia.
Plano de Combate – Em 2015, o
Brasil lançou o Plano de Eliminação da Malária no Brasil, que faz parte da
estratégia de atingir as metas estabelecidas pelas parcerias internacionais
para o diagnóstico, tratamento, controle vetorial, educação em saúde e
mobilização social. Entre as diretrizes está a identificação das áreas de
transmissão e com populações infectadas para garantir a oferta de tratamento em
áreas próximas às comunidades. Dessa forma, os casos podem ser identificados em
um intervalo menor de tempo, evitando casos graves e interrompendo a transmissão.
O diagnóstico deve ser feito
de forma contínua e regular, sendo essencial o envolvimento das equipes de
saúde da família, por meio da ação de agentes comunitários de saúde em seus
territórios para detectar, monitorar e orientar os pacientes. Os profissionais
de saúde devem estar atentos e ser capazes de identificar os sinais de
gravidade, e, quando necessário, devem promover o encaminhamento do paciente
para unidade de referência municipal ou estadual.
Confira AQUI a lista de
instituições, por estado, indicadas pelo Ministério da Saúde para o tratamento
e diagnóstico da malária.
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