A Fiocruz e o Consórcio BMK,
formado pelas empresas Blanver Farmoquímica, Microbiológica Química e
Farmacêutica e Karin Bruning assinaram um acordo de cooperação
técnico-científica que permitirá o desenvolvimento do medicamento Sofosbuvir
(400mg), indicado para o tratamento da hepatite C. O produto tem efeito
curativo, quando utilizado sozinho e/ou associado a outros inibidores de
protease, num esquema terapêutico (administração oral) de 12 semanas (84
comprimidos/tratamento), evitando o uso do interferon. O vice-presidente de
Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Jorge Bermudez, classificou a
iniciativa como “momento histórico” que reforça ainda mais o papel da Fundação
como instituição estratégica do Estado brasileiro. “Foram meses de trabalho e
reuniões para chegarmos a esse estágio. Desde que o medicamento foi aprovado
pelo FDA em 2013 houve uma mobilização mundial para garantir o acesso ao
produto. Com o acordo damos mais um passo firme nessa direção”, afirmou
Bermudez.
O preço inicial do
medicamento, nos Estados Unidos, foi de US$ 84 mil por tratamento (US$ 1 mil
por comprimido), o que praticamente inviabiliza o acesso. Com o desenvolvimento
nacional esse preço poderá chegar a um valor estimado pelo Consórcio, como
teto, de cerca de U$ 3 mil/tratamento (12 semanas). No entanto, serão feitos
esforços para reduzir ainda mais este preço. Cerca de 1,5 milhão de brasileiros
têm o vírus da hepatite C.
Bermudez lembra que o alto
valor inicial causou uma reação mundial, já que a grande maioria dos países não
têm como incorporar o medicamento em seus sistemas públicos de saúde. E mesmo
os países desenvolvidos têm dificuldades em assimilar preço tão elevado. A
empresa que desenvolveu o medicamento fez um acordo com laboratórios indianos
para reduzir o preço, que poderá atingir cerca de US$ 840 por tratamento. Mas
esse valor só poderá ser aplicado a 91 países de baixa e média renda – conjunto
que não inclui o Brasil.
Diante desse cenário, e com a
meta de baratear o preço do medicamento e assim contribuir com o Ministério da
Saúde a atender a demanda do SUS, a Fiocruz iniciou um movimento visando o
desenvolvimento nacional do Sofosbuvir 400 mg e desde 2014 vem promovendo
reuniões de um grupo de trabalho que inclui empresas do setor farmoquímico e
farmacêutico nacional (respectivamente, Microbiológica e Blanver), com o
intuito de estabelecer cooperação técnica. Como desdobramento deste esforço
coletivo, lotes experimentais do Sofosbuvir (IFA – ingrediente farmacêutico
ativo) e da formulação do Sofosbuvir 400 mg já foram obtidos. O cronograma de
trabalho reunindo a Fiocruz e o Consórcio prevê o encaminhamento para a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do dossiê de registro no segundo
semestre de 2016.
De acordo com Bermudez, o
desenvolvimento do medicamento também abre perspectivas positivas para a
criação, no futuro, de novos produtos contra a tríplice epidemia (zika, dengue
e chikungunya), já que o vírus da hepatite C é um flavivírus, ou seja, da mesma
família. “O Sofosbuvir está para a hepatite C como o AZT esteve para a Aids”,
avalia Bermudez. Para o segundo vice-presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Reinaldo
Guimarães, “a radicalidade desta novidade representa uma ruptura de paradigma
no tratamento da hepatite C. E também mostra que a indústria brasileira é
inovadora e capaz". O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde, Eduardo Costa, disse que o órgão
quer usar esse episódio para impulsionar outras parcerias.
Para o presidente da Fiocruz,
Paulo Gadelha, o acordo feito entre uma instituição pública e empresas
nacionais comprovadamente eficientes, como as do consórcio, é mais um esforço
para fortalecer o Complexo Econômico Industrial da Saúde (Ceis) e a atuação
deste dentro de uma política do Estado brasileiro. “Assim também ampliamos a
base produtiva nacional e asseguramos a missão da Fiocruz em atender as demandas
da área da saúde”. O diretor-presidente do Consórcio BMK, Jaime Rabi, salientou
que a assinatura do acordo com a Fiocruz é um “momento emblemático e que a
parceria vai desenvolver um produto estratégico fundamental para a população
brasileira”.
Por: Ricardo Valverde (Agência
Fiocruz de Notícias)


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