A Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, encontrou, pela primeira vez
no Brasil, mosquitos Aedes aegypti naturalmente infectados com o vírus Zika. A
identificação inédita ocorreu durante os estudos de vigilância e monitoramento
conduzidos pelo Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do
Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que vem coletando mosquitos em
localidades onde foram identificados casos de Zika, no Estado do Rio de
Janeiro.
Até então, em todo o
continente americano, havia apenas um relato recente sobre um conjunto de
mosquitos Aedes albopictus naturalmente infectados pelo vírus Zika, feito pelo
Ministério da Saúde do México. A descoberta da presença do vírus no mosquito
reforça que o A. aegypti deve ser a via de transmissão mais frequente do Zika
no Brasil. Os dados sobre o achado estão em fase de publicação.
O trabalho de captura de
mosquitos na busca de identificação dos vírus circulantes é realizado nos
entornos e nas residências de pacientes com sintomas de Zika, por meio de uma
parceria com a médica Patricia Brasil, pesquisadora do Instituto Nacional de
Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). Ao longo de dez meses, cerca de
1.500 mosquitos adultos de diversas espécies – entre machos e fêmeas – foram
capturados, por meio de equipamento de aspiração e levados para análise no
Laboratório. Destes, quase a metade eram da espécie A. aegypti. Os diagnósticos
da presença do vírus Zika foram realizados a partir de duas metodologias: a
análise molecular, por meio da técnica de RT-PCR em tempo real, capaz de
identificar a presença do material genético (RNA) do vírus, e a técnica de
isolamento viral, que demonstra que o mosquito carreava partículas virais
infectantes. O resultado apontou a presença do vírus em três conjuntos de
mosquitos A. aegypti coletados nos bairros de Coelho da Rocha, em São João de
Meriti, na Baixada Fluminense, e Realengo, Zona Oeste do Rio. Entre os
mosquitos capturados, nenhuma outra espécie estava infectada.
De acordo com Ricardo
Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do
Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e líder do estudo, para determinar que a
transmissão de uma doença é realizada por uma determinada espécie de inseto
vetor é necessário realizar duas constatações. A primeira é identificar a
ocorrência dessa espécie naturalmente infectada no campo, preferencialmente
pela técnica de isolamento do vírus em Laboratório. A segunda consiste em
comprovar que este vetor é capaz de transmitir o vírus por meio de testes que
avaliam a capacidade de transmissão. Para isso, é realizada a infecção
artificial do mosquito em laboratório, a fim de verificar se haverá a presença
de partículas virais ativas na saliva do mosquito – ou seja: partículas virais
capazes de causar a infecção.
“Nosso Laboratório constatou cientificamente
essas duas questões, que são fundamentais para se compreender a transmissão do
vírus, estimar o risco de propagação da doença e orientar as ações de
controle”, comentou, acrescentando que o Laboratório prossegue com as
atividades de coleta e análise dos mosquitos. Desta forma, a descoberta de
Aedes aegypti naturalmente infectado complementa uma descoberta, publicada em
março de 2016, que havia demonstrado a competência vetorial de mosquitos
brasileiros para a transmissão do vírus Zika. O estudo anterior foi realizado
em parceria com cientistas do Instituto Pasteur, da França, e publicado na
revista científica internacional 'Plos Neglected Tropical Diseases'. Os
resultados comprovaram que os A. aegypti brasileiros podem transmitir o vírus,
apesar de apresentarem competência vetorial relativamente baixa. [Clique aqui e
confira]
Para Ricardo Lourenço, fatores
como o comportamento, a distribuição e a densidade populacional do Aedes nas
regiões brasileiras podem ter contribuído para a rápida propagação do Zika. “Na
prática, o percentual de A. aegypti infectado com vírus e que transmite doenças
é muito pequeno. Por outro lado, o Aedes é um mosquito doméstico, que vive
próximo ao homem e se beneficia com a oferta de criadouros dentro das casas,
onde pode colocar seus ovos. A grande população de mosquitos e a proximidade
com humanos disponíveis para picar e obter o sangue necessário para o processo
reprodutivo, somadas à grande oferta de criadouros onde colocar seus ovos fazem
com que o mosquito viva mais tempo, favorecendo o processo de infecção e
disseminação de doenças como dengue, Zika e chikungunya”, concluiu.
Fonte: Assessoria Fiocruz
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