Garantir o acesso de mulheres
e adolescentes aos serviços de saúde – incluindo os serviços de prevenção,
tratamento e medicamentos para prevenir a transmissão de mãe para filho – será
a chave para acabar com a epidemia de HIV em 2030, afirmaram delegados dos
países das Américas e do mundo que participaram de evento paralelo à 69ª
Assembleia Mundial de Saúde.
A “Reunião de alto nível:
atenção imediata às mulheres e adolescentes para por fim à epidemia de Aids”
foi organizada pela primeira-dama do Panamá e embaixadora especial da UNAIDS
para a América Latina, Lorena Castillo de Varela.
Em 2014, em todo o mundo, 17,4
milhões de mulheres com mais de 15 anos viviam com HIV e 870 mil foram
infectadas com o vírus. Nos novos casos de infecção entre adolescentes, 62%
aconteceram com mulheres. Além disso, 420 mil mulheres morreram por causas
relacionadas ao HIV nesse ano. A África Subsariana é a área mais afetada.
“Para reduzir o número de
novas infecções e mortes relacionadas ao HIV, devemos aumentar a equidade de
gênero e o empoderamento das mulheres para que possam tomar decisões autônomas
sobre sua própria saúde e para que vivam livres de toda violência”, afirmou
Castillo, que também falou em envolver mulheres e adolescentes “no desenho e
implementação de programas essenciais que atendam às suas necessidades de
saúde”.
O Ministro da Saúde do Panamá,
Javier Terrientes, alegou que “as mulheres são essenciais para por fim à
epidemia de HIV” e mencionou as ações desenvolvidas por seu país para avançar
nesse caminho, todas alinhadas às estratégias da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e UNAIDS. “Por mais de 15 anos, o Panamá entrega gratuitamente
medicamentos para tratar a infecção e os testes de HIV alcançam 90% das
mulheres grávidas”, destacou. “A prevenção e o tratamento precoces são os
pilares fundamentais para acabar com a epidemia”, reiterou.
“Existem 1,8 bilhão de
adolescentes e jovens no mundo. Se não olharmos para eles, não vamos poder
alcançar nosso objetivo de acabar com a epidemia de HIV em 2030”, salientou a
diretora-geral da OMS, Margaret Chan. “As mulheres e meninas devem aproveitar
as oportunidades para alcançar o máximo de seu potencial e é preciso combater a
discriminação e a violência contra elas. Para isso, é necessário trabalhar com
os homens.”
Flavia Bustreo, diretora geral
adjunta da OMS para a Saúde da Família, da Mulher e da Criança, indicou que em
muitos países as mulheres, jovens e meninas têm um maior risco de contrair o
HIV e são as que mais sofrem com a epidemia. “O HIV segue como a segunda causa
de morte entre adolescentes no mundo”, lamentou, lembrando que a prevenção e o
tratamento devem ser incorporados ao longo do ciclo de vida das pessoas, com
abordagem que começa com uma criança que nasce livre da infecção. “Podemos
deter a epidemia adotando uma abordagem integral para mulheres e jovens,
inclusive alcançando seus companheiros, vinculando a prevenção do HIV à saúde
reprodutiva”, afirmou.
Segundo Michel Sidibé, diretor
executivo da UNAIDS, abordar a saúde das mulheres e o HIV “é uma questão de
direitos humanos, igualdade de gênero e justiça social”. Ele ressaltou que no
ano 2000, apenas 1% das mulheres grávidas no mundo receberam tratamento contra
o HIV para continuar vivendo. Já em 2010, esse percentual subiu para 73%. Além
disso, o número de novas infecções em crianças caiu quase 60% desde 2000. “Com
vontade política é possível evitar a transmissão de mãe para filho. Cuba é um
excelente exemplo disso”, afirmou, convocando todos a “acelerar o ritmo e
garantir que todas as mulheres e crianças estejam incluídas e que ninguém seja
deixado para trás”.
Além do Paraná, patrocinaram o
encontro Equador, El Salvador, Estados Unidos e República Dominicana, junto com
Austrália, Costa do Marfim, Portugal, África do Sul, Suíça e Zâmbia; os países
apoiaram o Fundo Global de Luta contra a Aids, Tuberculose e Malária; o
Secretariado da OMS; e UNAIDS.
Situação regional
Estima-se que, na América
Latina, 1,7 milhões de pessoas, incluindo 33 mil crianças, viviam com HIV em
2014 e que, do total de pessoas infectadas com 15 anos ou mais, 31% são
mulheres. O número estimado de novas infecções se manteve em 87 mil desde 2011.
O estigma, a discriminação e a violência são barreiras significativas para a
prestação e o uso de serviços de prevenção e tratamento na região.
A Ministra da Saúde de El
Salvador, Violeta Menjivar, disse que em seu país o número de novos casos e de
mortalidade associada ao HIV, assim como a transmissão de mãe para filho, está
diminuindo devido a uma estratégia combinada de esforços intersetoriais. No
entanto, reconheceu que em El Salvador, como em outros países das Américas, ainda
prevalecem padrões culturais de desigualdade e inequidade que afetam a situação
das mulheres, meninas e adolescentes frente ao HIV.
“Uma entre cada cinco mulheres
com HIV em El Salvador são donas de casa”, disse. Por questões culturais essas
mulheres “não podem negociar com seus parceiros o uso de preservativo”.
Menjivar observou que seu país garante o acesso universal à terapia
antirretroviral gratuita e que o Congresso salvadorenho está debatendo uma nova
lei sobre a resposta global aos HIV; 77% do financiamento para a resposta à
epidemia vem de fundos públicos, o que assegura sua sustentabilidade.
Ricardo Barros, Ministro da
Saúde do Brasil, afirmou que em seu país a epidemia está concentrada em grupos
populacionais importantes (como pessoas trans e homens que fazem sexo com
homens), mas reconheceu a necessidade de se dar maior prioridade às mulheres e
meninas. Segundo ele, “fatores de gênero continuam a ser essenciais na epidemia
de HIV”. Barros disse também que seu país é um dos maiores compradores de
preservativos femininos do mundo. “Foram distribuídas, no ano passado, 22
milhões de unidades”.
Pamela Hamamoto, representante
permanente dos Estados Unidos nas Nações Unidas, chamou atenção para “cuidar da
saúde das mulheres durante todas suas vidas”, melhorando sua saúde e prevenindo
o HIV. Disse também que o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos
para Alívio da Aids (PEPFAR) está comprometido em reduzir o HIV nos 10 países
africanos mais afetados. Neste sentido, estão levando educação às escolas,
porque “investir na educação das meninas é fundamental para lhes permitir viver
a vida que merecem e romper com o ciclo de pobreza e violência”.
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