No início de fevereiro de
2015, médicos da Região Nordeste do Brasil notaram um aumento no número de
pessoas reclamando sobre uma doença leve, com e sem febre, caracterizada por
erupção cutânea, fadiga, dores nas articulações e conjuntivite. A doença foi
breve e a recuperação espontânea. Uma forma leve de dengue, doença
hiperendêmica transmitida por um mosquito no país, era a suspeita, mas os
testes foram negativos na grande maioria das amostras. Chikungunya, outra
doença transmitida por mosquitos, detectada pela primeira vez em 1952 na
África, foi igualmente suspeita. Mais uma vez, os resultados dos testes foram
negativos.
Ao fim do mês de março, o
Brasil informou à Organização Mundial de Saúde (OMS) que cerca de 7 mil casos
de uma doença caracterizada por erupções cutâneas haviam sido notificados em
seis estados da Região Nordeste. Laboratórios haviam realizado uma bateria de
exames em mais de 400 amostras de sangue; 13% das amostras foram positivas para
dengue, mas negativas para diversos outros vírus conhecidos por provocarem
erupções cutâneas. O agente causador permaneceu uma incógnita.
A primeira pista promissora
veio ao fim de abril de um laboratório na Bahia, onde os pesquisadores
começaram a suspeitar que a doença pudesse ser transmitida nas áreas com densa
população de mosquitos. Dando um tiro no escuro, eles testaram para zika, um
vírus exótico e pouco compreendido, nunca visto antes nas Américas, transmitido
por mosquitos. Embora o resultado tenha sido positivo, dúvidas permaneceram.
Testes para zika são tecnicamente desafiadores, já que o vírus reage de forma
cruzada com os vírus da dengue e chikungunya, ambos presentes no país à época.
Uma semana depois, no dia 7 de
maio, testes realizados em laboratório de referência do Brasil identificou o
vírus zika em várias amostras. Uma nova doença transmitida por mosquito havia
de fato chegado às Américas, embora ninguém soubesse o que isso poderia
significar.
Outros casos
Panamá confirma à OMS a
existência de dois recém-nascidos com síndrome congênita e testes positivos
para zika. Um deles nasceu prematuramente e teve microcefalia, língua alargada
e pescoço curto; o teste da mãe para o vírus ainda está pendente. O segundo nasceu
a termo e tinha microcefalia; o teste da mãe deu positivo por PCR para o vírus
zika.
Vietnã notifica a OMS dois
casos confirmados em laboratório de infecção pelo vírus zika. São os primeiros
casos adquiridos de forma local no país.
A descoberta foi
surpreendente, porém difícil de interpretar. O aparecimento de um vírus em uma
nova área geográfica é sempre motivo de preocupação, já que a população não
terá imunidade pré-existente para retardar o vírus. A epidemia pode ser
explosiva, enchendo rapidamente os serviços de saúde com doentes e preocupados.
Existe outra preocupação: vírus da mesma família dos flavírus, como o zika, são
conhecidos por sofrer pequenas alterações genéticas por viverem em meio a uma
população vulnerável que os ajuda a ter potencial epidêmico. Apesar das
mudanças serem pequenas e seus significados incompreendidos, cepas epidêmicas
podem surpreender na forma como o vírus evolui, se comportando às vezes de
maneira inesperada.
No balanço, entretanto, a
longa história de doenças do vírus zika foi reafirmada. Ele foi detectado pela
primeira vez em 1947 em um macaco sentinela, identificado como Rhesus 776, na
floresta Zika, em Uganda, como parte de um projeto de pesquisa sobre a febre
amarela silvestre. Nas próximas seis décadas, foram identificados apenas 14
casos humanos que ocorreram naturalmente, por isolamento do vírus, em todo o
mundo, em uma faixa equatorial estreita que se estende por toda a África e Ásia
(clique aqui). Foram relatados, ainda, mais dois casos: um em um voluntário
europeu que foi experimentalmente infectado na Nigéria e outro em um técnico de
laboratório em Portugal. Todas as doenças foram leves e breves, seguidas de uma
recuperação completa e sem complicações.
Um pequeno grupo de cientistas
dedicados continuou a realizar experimentos com o vírus zika para avaliar o
risco potencial para o povo africano e, possivelmente, para o mundo em geral.
Em 1952 já se especulava que o zika e outros vírus recentemente descobertos
poderiam ter efeitos sobre o sistema nervoso central ou produzir alterações
congênitas no feto, caso as grávidas tenham sido infectadas. Foi especulação.
Para todos os efeitos práticos, zika parecia uma curiosidade médica e alguma
ameaça à saúde pública.
Na África, os pesquisadores
acreditavam que a transmissão estava restrita a matas e florestas onde os
mosquitos viviam, preferindo se alimentar do sangue de macacos. Infecções
humanas foram incidentais a esse padrão de transmissão dominante. Se o vírus
tinha qualquer potencial epidêmico, ninguém notou.
Fonte: Portal OPAS



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