Estudo pioneiro da Fundação OswaldoCruz (Fiocruz), órgão vinculado o Ministério da Saúde, constatou a presença do
vírus zika ativo (com potencial de provocar a infecção) em amostras de saliva e
de urina. A evidência inédita, que sugere a necessidade de investigar a
relevância destas vias alternativas de transmissão viral, foi constatada pelo
Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz).
Os estudos foram liderados
pela pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório, em colaboração com a
infectologista Patrícia Brasil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro
Chagas (INI/Fiocruz). Foram analisadas amostras referentes a dois pacientes e
as coletas foram realizadas durante a apresentação de sintomas compatíveis com
o vírus zika. Alíquotas das amostras foram colocadas em contato com células
Vero, que são amplamente usadas em estudos sobre atividade viral no caso da
família dos flavivírus, à qual pertencem os vírus zika, dengue e febre amarela,
entre outros.
Os cientistas observaram o
efeito citopático provocado nas células: foi observada a destruição ou
danificação das células, o que comprova a atividade viral. A presença do
material genético do vírus zika foi confirmada pela técnica de RT-PCR em Tempo
Real. Também foi realizado o sequenciamento parcial do genoma do vírus.
Diagnósticos laboratoriais descartaram a presença dos vírus dengue e
chikungunya – para estas análises, foi usado o Kit NAT Discriminatório para
Dengue, Zika e Chikungunya recentemente desenvolvido pela Fiocruz.
“Já se sabia que o vírus
poderia estar presente tanto em urina quanto em saliva. Esta é a primeira vez
em que demonstramos que o vírus está ativo, ou seja, com potencial de provocar
a infecção, o que abre novos paradigmas para o entendimento das rotas de
transmissão do vírus Zika. Isso responde uma pergunta importante, porém, o
entendimento da relevância epidemiológica destas potenciais vias de infecção
demanda novos estudos”, situa Myrna Bonaldo.
“Esta descoberta é parte dos
115 anos de dedicação da Fiocruz à saúde pública. Temos dirigido nossos
esforços para colaborar com a ampliação do conhecimento científico sobre este
vírus que vem desafiando cientistas de todo o mundo. Esta é mais uma contribuição
da Fiocruz à saúde global", afirma o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.
“Estamos lidando com dados muito recentes e, a cada momento, novas evidências
são obtidas e compartilhadas pela comunidade científica, como acabamos de
fazer”, esclarece.
Gadelha situa que, após a
comprovação do potencial de transmissão por via de saliva e de urina, dada a
constatação da presença do vírus ativo, é necessário investigar a relevância
destas potenciais vias para a transmissão viral. “A primeira medida é sempre a
da cautela. O que sabemos hoje é que o vírus zika costuma apresentar quadro
clínico brando, com maior preocupação em relação às gestantes por conta dos
casos de microcefalia que têm sido acompanhados. Neste sentido, medidas de
prevenção já conhecidas para outras doenças precisam de um olhar mais cauteloso
a partir de agora, especialmente no caso do contato com as gestantes. Estamos
empenhados em gerar evidências sobre o vírus zika e vamos compartilhar estas
evidências conforme avançarmos no conhecimento sobre o tema”, pontua,
acrescentando que outras perguntas científicas permanecem em aberto, como o
período de sobrevivência viral na saliva e urina, por exemplo.
A Fiocruz alerta que, com base
nos conhecimentos disponíveis até o momento, as medidas de controle do vetor
Aedes aegypti continuam sendo centrais. “Em uma situação como esta, em que
estamos conhecendo mais a cada dia sobre este vírus, todos os aspectos precisam
ser considerados. Muito ainda precisa ser investigado em relação à importância
de cada via de transmissão para a propagação de casos. Porém, é fundamental que
a vigilância ao vetor permaneça. Não podemos esquecer que ele é comprovadamente
o vetor para os vírus dengue, chikungunya e zika”, reforça o presidente da
Fiocruz.
Myrna destaca a mobilização da
comunidade científica sobre o vírus zika. "É nossa missão enquanto
cientistas contribuir para o entendimento desta situação de saúde pública que
preocupa a todos e que já está afligindo milhares de famílias no Brasil, com o
crescimento de casos de microcefalia", Myrna diz, agradecendo à dedicação
da equipe de pesquisa. "Como temos um Laboratório que é justamente focado
em flavivírus, família à qual o zika pertence, desde o primeiro momento vimos a
possibilidade de ajudar. Isso somente foi possível devido ao compromisso
integral das pessoas envolvidas e da instituição", completa.
Em 2015, a Fiocruz criou o
Gabinete de Enfrentamento à Emergência Sanitária de Saúde Pública de
Importância Nacional (ESPIN/Fiocruz), que visa aproveitar ao máximo as capacidades
e os recursos disponíveis na instituição para atender à necessidade de dar
respostas objetivas para o Ministério da Saúde e a população sobre a situação
de emergência em dengue, chikungunya e zika no país.
Em novembro de 2015, o
Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), por meio do Laboratório de Flavivírus,
concluiu diagnósticos laboratoriais que constataram a presença do genoma do
vírus zika em amostras de líquido amniótico de duas gestantes do estado da
Paraíba, cujos fetos tinham microcefalia detectada por meio de exames de
ultrassom. Ambas haviam relatado sintomas compatíveis com o vírus zika e, nos
exames anteriores, não havia indicativo do problema. Os resultados foram
relevantes para orientar as investigações em andamento e a reforçar a suspeita
de correlação entre o vírus e a microcefalia.
Em janeiro de 2016, a Fiocruz
anunciou a criação do Kit NAT Discriminatório para Dengue, Zika e Chikungunya.
A inovação garantirá maior agilidade para os testes realizados na rede de
laboratórios do Ministério da Saúde, além de reduzir os custos e permitir a
substituição de insumos estrangeiros por um produto nacional. Idealizada pelo
Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e desenvolvida em parceria com o Instituto
de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), a novidade conta com o apoio da
Fiocruz-Paraná, da Fiocruz-Pernambuco e do Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).
Também em janeiro, o Instituto
Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) desenvolveu um estudo que confirmou a
transmissão interplacentária do vírus zika após a análise da amostra da
placenta de uma gestante da região Nordeste, que apresentou sintomas
compatíveis de infecção pelo vírus e que sofreu um aborto retido – quando o
feto deixa de se desenvolver dentro do útero – no primeiro trimestre de
gravidez. A pesquisa foi realizada em parceria com a Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC-PR).
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