O ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, disse hoje (30) que o governo buscará a
autorização para venda e legalização da fosfoetanolamina como suplemento
alimentar. “Nossa proposta é que seja legalizado como suplemento alimentar para
tirar a substância do mercado paralelo. Que ganhe as prateleiras das farmácias
e lojas especializadas”, disse ele, sobre a substância que ficou conhecida
popularmente como a “pílula do câncer”.
“Se a substância vier a ser
suplemento, ela não substitui nenhum tratamento médico e medicamentos já com
eficácia comprovada contra a doença”, ressaltou o ministro.
Essa recomendação será feita
porque o composto produzido pela Universidade de São Paulo (USP) não é tóxico,
segundo Pansera. Ele afirmou que, como há demanda da população pela legalização
da substância, o melhor caminho é autorizar sua venda como suplemento alimentar
até que se concluam as pesquisas que investigam sua eficácia contra o câncer.
“As pessoas estão consumindo
essa pílula, não sei de onde, não sei como, e isso está mitificando a
substância. Existem defesas apaixonadas contra e a favor. Existe lei aprovada,
veja a dimensão. O nosso objetivo é jogar a luz da ciência sobre o fato”,
disse.
O ministro se reuniu na manhã
de hoje (30) com parlamentares e pesquisadores para tratar do tema e disse que
vai encaminhar a recomendação tanto para o Congresso Nacional quanto para a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele informou que a Anvisa
investigou o que há sobre a fosfoetanolamina pelo mundo e não existe
solicitação de patente e nem estudos em aberto com a substância, seja como
alimento, suplemento alimentar ou medicamento.
Histórico
Sintetizada há mais de 20
anos, a fosfoetanolamina sintética foi estudada pelo professor Gilberto
Orivaldo Chierice, hoje aposentado, quando ele era ligado ao Grupo de Química
Analítica e Tecnologia de Polímeros da USP, campus de São Carlos. Algumas
pessoas tiveram acesso gratuito às cápsulas contendo a substância, produzidas
pelo professor, porém sem aprovação da Anvisa. Esses pacientes usavam a pílula
como se fosse um medicamento contra o câncer.
Em junho de 2014, uma portaria
da USP determinou que substâncias em fase experimental deveriam ter todos os
registros antes de serem distribuídas à população. Desde então, pacientes que
tinham conhecimento das pesquisas passaram a recorrer à Justiça para ter acesso
às pílulas.
No dia 22 de março, o Senado
aprovou o projeto de lei para resolver essa questão do acesso e que garante aos
pacientes com câncer o direito de usar a fosfoetanolamina, mesmo antes de ela
ser registrada e regulamentada pela Anvisa. O projeto está nas mãos da
presidenta Dilma Rousseff, para sanção ou veto. O ministro Pansera não quis
comentar a provação do projeto.
A Sociedade Brasileira de
Cancerologia (SBC) se manifestou, em nota, dizendo que não apoia a legalidade
da chamada pílula do câncer. A Anvisa também se posicionou dizendo que vê com
preocupação a aprovação do projeto, já que a fosfoetanolamina é uma substância
utilizada há 20 anos de maneira ilegal e que nunca foi testada de acordo com as
metodologias científicas internacionalmente utilizadas para comprovar sua
segurança e eficácia.
Assim, diante da expectativa
gerada em torno do efeito antitumoral da fosfoetanolamina, o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação criou, no ano passado, um grupo de trabalho para
testar a chamada pílula do câncer. O objetivo é investigar os efeitos da
substância e esclarecer se ela é efetiva no combate à doença.
Fase de testes
O Ministério da Saúde tem R$
10 milhões em recursos para serem usados nas pesquisas, sendo que R$ 2 milhões
já foram gastos, segundo o ministro.
O conjunto de experimentos in
vitro feitos para testar a toxicidade da pílula mostraram que o composto possui
32% de fosfoetanolamina e o restante de monoetanolamina e outros sais,
resultantes da sintetização da substância. Nenhum deles é tóxico, segundo o
ministro, se administrados na quantidade estabelecida pela USP, três cápsulas
de 330 miligramas cada, por dia.
A fase de testes com animais
também já está concluída e o relatório com os resultados avançados deve ser
divulgado entre 15 e 20 de abril, segundo Pansera. Nessa fase, tanto o
composto, quanto as substâncias separadas foram testadas para câncer de
pâncreas e melanoma. “Nossa ideia é continuar as pesquisas e seguir os testes
nas fases pré-clínica e clínica, com seres humanos”, adiantou o ministro. “Tudo
que estamos fazendo segue o roteiros necessário para comprovação de um
medicamento”, completou.
Fabricação do suplemento
Pansera explicou que a Anvisa
tem um processo específico de liberação de suplementos alimentares e, caso seja
legalizada a utilização da fosfoetanolamina dessa forma, o ministério irá
procurar o laboratório habilitado pelo governo de São Paulo para produzir a
pílula. Se não houver interesse desse laboratório, o ministro disse que algum
instituto público de pesquisa poderá escalonar a produção, até que o mercado se
ajuste à demanda.
*Com colaboração da repórter
Camila Boehm
Edição: Maria Claudia
Autor: Andreia Verdélio ?
Repórter da Agência Brasil*
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