Nesta quinta-feira, 22 de
setembro, o Senado Federal sediou o Fórum “Avanços no Tratamento do Câncer:
tecnologia, interdisciplinaridade e suporte ao paciente”. Realizado pelo
Programa Ação Responsável, o evento reuniu representantes de diferentes setores
de atuação ligados ao tema para debater o assunto em âmbito nacional. Estiveram
presentes, compondo mesa de abertura, a deputada federal e membro da Comissão
de Seguridade Social e Família, Érika Kokay; a diretora do Departamento de
Vigilância de Doenças e Agravos não transmissíveis e Promoção da Saúde da
Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Maria de Fátima
Marinho; e o superintendente do Hospital Universitário de Brasília (HUB),
Hervaldo Sampaio Carvalho.
Do Ministério da Saúde, Maria
de Fátima Marinho apresentou dados atuais sobre o câncer no mundo e no Brasil.
“O câncer é o responsável por mais de 12% de todas as causas de óbito do mundo.
Um problema de saúde pública mundial com estimativas de que, até 2030, haja 27
milhões de novos casos da doença”, lembrou a participante. De acordo com ela,
no Brasil, a distribuição dos diferentes tipos de câncer sugere uma transição
epidemiológica em andamento. Segundo dados apresentados, em 2015, ocorreram
mais de 200 mil óbitos por câncer no Brasil, dos quais, mais de 13 mil apenas
na região Centro-Oeste.
“Estamos na época da
nanotecnologia e dos avanços tecnológicos. Contudo, ainda vivemos na era do
tratamento oncológico mutilante”, destacou Hervaldo Sampaio Carvalho ao falar
do problema do diagnóstico tardio. Na oportunidade, defendeu o atendimento
centrado no paciente, com atenção aos aspectos sociais e econômicos. “O
paciente precisa ser muito bem instruído sobre o que precisa fazer, pois a
decisão está na sua mão”, citou, como sendo esta a didática adotada na atuação
do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) - um centro de referência
para o tratamento do câncer em Brasília, localizado no HUB. Na oportunidade,
chamou atenção para a criação de campanhas educativas, em escolas e junto aos
jovens, com promoção de hábitos saudáveis e de boa alimentação para a prevenção
de diversos cânceres evitáveis.
A deputada Érika Kokay também
falou do aspecto epidemiológico do câncer no território brasileiro. “Lidamos
com pessoas, e por isso temos que ter um sistema multidisciplinar, por isso a
importância dos dados epidemiológicos do câncer para fazermos a arqueologia da
incidência da doença e, assim, considerar todas as variáveis para que tenhamos
uma boa intervenção”, pontuou. Para ela, é preciso saber quais são os limites
dos produtos que têm relação com a incidência do câncer. “O que os nossos
meninos e meninas estão comendo na merenda escolar?”, questionou.
Mesa técnica
As apresentações de palestras
e o debate no tema se deu por meio de uma mesa técnica, que reuniu
representatividade da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS), da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), da Agência Nacional de Saúde
Suplementar, do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (I'DOR, Brasil), da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e do Instituto Oncoguia.
Segundo o coordenador geral de
Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas do Departamento de Atenção
Especializada e Temática da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS), Sandro José
Martins, estima-se que até o final de 2016, haverá 596 mil novos casos de câncer
no Brasil. De acordo com ele, o atendimento às pessoas com câncer no país
alcança todos os estados da federação, mais ainda com acesso limitado a
equipamentos e tratamentos, especialmente os de alta complexidade. “Essa ação
requer uma força conjunta e intersetorial”. Pontuou, também, as ações da
Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (Portaria GM/MS 874/2013),
que tem como objetivo, reduzir a incidência e mortalidade por câncer e as
incapacidades pela doença, bem como contribuir para a melhoria da qualidade de
vida dos usuários com câncer, por meio de ações de promoção, prevenção,
detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos.
Da ANVISA, o secretário executivo da Câmara de
Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), Leandro Pinheiro Safatle, destacou
as características e a importância da regulação do mercado farmacêutico, além
da representatividade dos medicamentos oncológicos no Brasil. Segundo dados
apresentados por ele, os medicamentos oncológicos comercializados no Brasil podem
ser classificados de acordo com subclasses terapêuticas de nível 4, sendo que
os anticorpos monoclonais antineoplásicos e os inibidores de proteína quinase,
juntos, somaram, em 2014, 49% do faturamento nesse mercado.
Raquel Lisbôa, gerente geral de Regulação
Assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), apresentou no
evento a contextualização da ANS como órgão vinculado ao Ministério da Saúde e
seu papel na regulação assistencial. Segundo ela, dentre as ações da
instituição, está a criação de grupos de trabalho com representantes de várias
especialidades médicas, inclusive a de oncologia. Neste contexto, citou
revisões importantes no rol de procedimentos disponíveis para o tratamento do
câncer - a radioterapia com modulação da intensidade do feixe, para tumores da
região da cabeça e pescoço e a cobertura para terapia antineoplásica oral com
37 medicamentos, em 2014, e a ampliação do uso da Abiraterona para câncer de
próstata préquimioterapia, e do uso da Abiraterona para câncer de próstata
préquimioterapia, em 2016, entre outros.
Para o coordenador de
Oncologia do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (I'DOR, Brasil), Carlos Gil
Ferreira, falta estratégia no Brasil para gerar maiores resultados nos
tratamentos de câncer. “A medicina de precisão é a base futura da oncologia,
entre outras doenças, com significativa economia de recursos”, argumentou.
Criticou, na ocasião, o acesso a drogas necessárias ao tratamento, cada vez
mais limitado no país, o que aumenta a judicialização da saúde. Como proposta
de evolução, sugeriu a construção de um modelo que integre a pesquisa clínica e
a inovação à produção e às políticas de saúde para a oncologia. E defendeu a
criação de um laboratório de gestão de informação. “Isso poderia ajudar. Não
conseguiremos avançar se não colocarmos todos os atores juntos”, finalizou.
Luciana Holtz de Camargo
Barros, presidente do Instituto Oncoguia, apresentou as ações da entidade como
suporte direto ao paciente com câncer. O desafio, segundo ela, é mudar a forma
como as pessoas pensam a doença, especialmente no momento do diagnóstico. “Da
prevenção ao vivendo com câncer”, acrescentou. Falou das inúmeras barreiras que
o paciente enfrenta em diferentes casos, como câncer próstata, colo do útero e
colorretal: “60% dos novos casos de câncer são descobertos em níveis avançados.
Em média, são seis meses de espera para começar um tratamento no SUS”. De
acordo com Luciana, na maioria das vezes, no momento do diagnóstico, o paciente
está desinformado, assustado e frente a tratamentos defasados. “O paciente deve
estar no centro. Diante de um diagnóstico, ele espera cura, qualidade de vida
ou sobrevida, estabilização e controle da doença”, concluiu.
O presidente da Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Gustavo Fernandes, defendeu que a
oncologia requer equipes de saúde especializadas, multiprofissionais,
interdisciplinares e transdisciplinares, e que a forma de atendimento oferecida
hoje aos pacientes com câncer está muito aquém do ideal. “Pacientes com doenças
graves, progressivas, sem proposta curativa, que ameacem a continuidade da
vida, devem receber a abordagem dos Cuidados Paliativos desde seu diagnóstico”,
exemplificou. Lembrou, ainda, que um paciente com câncer é parte de uma
família, de um trabalho, de toda uma vida que será impactada. “Há pacientes
que, mais do que un medicamento, precisam do dinheiro da passagem. O cuidado
multidisciplinar, com outros enfoques além da doença, é fundamental”,
completou.
O Fórum contou com moderação
do médico Jorge Sayde, da Coordenação Geral da Saúde do Trabalhador do
Ministério da Saúde. “Sou do tempo que falar a palavra câncer significava uma
sentença de morte. Os tempos mudaram para melhor. Mas ainda temos situações que
dificultam a movimentação das tecnologias para os tratamentos”, disse. Segundo
ele, mais de 80% do câncer são de causas externas, ou seja, relacionadas a
costumes, hábitos, alimentação, tabagismo, exposição solar, entre outros
fatores. “Precisamos de uma maior mobilização na promoção da prevenção do
câncer. Por outro lado, a atenção básica também precisa ser melhorada”,
concluiu.
O Programa Ação Responsável
disponibilizou, em seu SITE, mais fotos do evento, bem como os slides das
palestras apresentadas pelos conferencistas. É possível também acompanhar a
página do Programa no Facebook para informações sobre as atividades programadas
para o segundo semestre de 2016.
Avanços no tratamento do
câncer: tecnologia, interdisciplinaridade e suporte ao paciente
Evento realizado: 22 de
setembro de 2016, quinta-feira, das 9h às 14h
Local: auditório Senador
Antônio Carlos Magalhães (Interlegis, Senado Federal).
Realização: Instituto
Brasileiro de Ação Responsável.
Parceiras: Congresso Nacional;
Ministério da Saúde; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD);
Agência Íntegra Brasil e Interlegis
Patrocínio: Lilly, MSD, Bayer
e AstraZeneca
Mais informações: (61):
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